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Como a TL Brasil fez história no Valorant

Como a TL Brasil fez história no Valorant

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No circuito brasileiro de Esports de VALORANT sempre em evolução, há uma constante: a Team Liquid. Um time verdadeiramente pioneiro, desafiando normas e chegando ao topo ao longo das temporadas competitivas do programa Game Changers – elas também tiveram muito sucesso em mundiais, conquistado terceiro e segundo lugares respectivamente nos campeonatos mais recentes.

Elas ainda não venceram um campeonato internacional, mas quem sabe dê certo na terceira vez, não é mesmo?

Pode até ser, mas a equipe tem um objetivo diferente em mente, e, curiosamente, vencer o campeonato mundial do Game Changers não é o auge para elas. Essa jornada até o topo começa localmente: a prioridade da Cavalaria sempre foi subir na liga mista Tier 2 do país, o VALORANT Challengers Brasil (VCB).

E se você acompanha o cenário competitivo brasileiro, sabe que o time já fez história neste trimestre ao se tornar a primeira equipe inclusiva de VALORANT a chegar às qualificatórias fechadas do VCB, após uma bem-sucedida etapa aberta. O último passo antes do torneio principal, as qualificatórias fechadas, foram uma experiência única e inesquecível.

"Foi um sonho realizado, sabe?" conta Daiki, IGL da Team Liquid. "Mas, para mim, significou muito mais do que qualquer partida. Foi um momento verdadeiramente único. Claro, você tem a ambição de vencer, mas foi tão único que, na minha opinião, as partidas das qualificatórias fechadas foram até mais leves pelo fato de termos feito história e chegarmos lá".

No final, a vaga não veio, mas o fato de estarem a apenas uma partida de passar pelas qualificatórias e garantir o lugar no VCB mostra que a Cavalaria está definitivamente no caminho certo e é apenas uma questão de tempo.

"Obviamente, chegamos muito perto; (...) poderíamos ter conseguido, mas acho que tem que ser gradual. É mais sobre olhar para trás e ver o que você fez. Porque se você só focar no resultado [derrota], iríamos dormir e acordar tristes até agora, certo? (...) Já estar nas qualificatórias fechadas significa muito", acrescenta.

Pelo formato do calendário da liga Tier 2 brasileira, as meninas tiveram pouco tempo após o Game Changers para aproveitar uma merecida pausa e criar novas estratégias tanto para as qualificatórias abertas quanto para as fechadas, o que representou um desafio. Aqui, a conexão delas foi fundamental, e Bizerra, um dos grandes destaques da Team Liquid Brasil no ano passado, destaca as dinâmicas e a comunicação da equipe.

"Parece que a cada torneio, a cada momento que passamos juntas, fica mais fácil nos conectarmos, sentir essa energia, e sinto que todas estão no mesmo caminho".

Daiki acrescenta que a equipe também se baseou no que aprenderam durante o campeonato mundial do Game Changers, que foi notável por si só – em casa, diante da torcida brasileira, elas venceram quatro partidas consecutivas na chave inferior para chegar à grande final e levá-la ao quinto e último mapa.

"Depois da nossa pausa, voltamos e treinamos por cerca de uma semana, então não tivemos tempo de criar algo novo ou inovar. Literalmente só revimos o que já estávamos fazendo no mundial e jogamos em torno disso. Funcionou muito bem, então deu para ver que estávamos no caminho certo".

Desbravando o território

Nos últimos dois anos, a Cavalaria tem sido sem dúvida a equipe a ser superada no circuito local do Game Changers. Porém, as qualificatórias fechadas eram um território um pouco desconhecido - afinal, foi a primeira vez que chegaram lá. Mas Bizerra e Daiki explicam que o terreno não era tão "misterioso" assim.

"Sempre treinamos com equipes que já estão no VCB e também com nossos 'hermanos' do Challengers [na América Latina]. O que foi um pouco difícil na época, para todo mundo na verdade, foi o patch. Estávamos jogando no patch antigo, mas os treinos tinham que ser no novo".

Em 2024, o VCB foi expandido para incluir mais dois times, essas equipes se juntariam às outras oito que recebem convite direto para o campeonato. As qualificatórias começaram com duas fases abertas, e quatro times se classificaram em cada fase. A conquista histórica da Team Liquid foi através da segunda qualificatória, na qual as meninas tiveram que ganhar quatro séries para finalmente derrotar a “Xenom com M” por 2-0.

E, finalmente, foi na qualificatória fechada de janeiro que a Team Liquid fez uma estreia forte ganhando de maneira convincente do time “os piticos” por 2-0. Na rodada seguinte, na chave principal da semifinal, elas jogaram contra a “SAGAZ CLUB”. A Cavalaria se manteve forte no primeiro mapa, na Lotus, e venceu por 13-2. Mas, no final, seus adversários igualaram o placar ao vencer o segundo mapa pelo placar de 13-15.

Caindo para a chave inferior, as meninas se encontraram em uma situação similar à do Game Changers World Championship: não existia espaço para erros, se errassem, tudo estaria acabado.

As performances espetaculares da dupla bstrdd e Bizerra foram cruciais para garantir a vitória na primeira eliminatória contra “OS CARA CEGO”. Na semifinal da chave inferior, com apenas uma partida as separando da final que as levaria para o VCB, as meninas enfrentaram a “Orquestra do Maestro”, equipe que acabou vencendo a série e eliminando a Cavalaria.

Ambas as jogadoras se mostram satisfeitas com o desempenho geral durante as qualificatórias fechadas e ainda mais com a evolução que mostraram em comparação com tentativas anteriores.

"A principal lição, para mim, foi imaginar o cenário [positivo] mesmo que não aconteça, porque quando perdemos, todas nós repensamos várias coisas - a equipe, nossas performances individuais, o que posso mudar...", diz Bizerra. "E quando finalmente conseguimos, percebemos que estamos indo na direção certa. Continue indo em frente e vai dar certo. Com essa equipe, sinto que todas as garotas estão 100% preparadas para esse momento".

Daiki concorda: "Mesmo sendo meu principal objetivo, eu ficava com uma pulga atrás da orelha sobre se posso e se vou realmente conseguir. Então acalma meu coração provar para mim mesma e para todos que podemos fazer isso".

A preparação mental também desempenhou (e sempre desempenha) um papel importante. Focar no trabalho psicológico fornecido pela Team Liquid e sair das redes sociais após uma derrota em uma partida são algumas das táticas usadas.

"Somos afetadas pelos nossos próprios resultados, então é mais fácil para alguém te atingir. (...) Se pararmos de olhar o Twitter, dermos uma volta [na Alienware Training Facility em São Paulo] e ver as pessoas, ninguém vai estar falando sobre mensagens de ódio. Nos blindar é a única coisa que podemos fazer neste momento", explica Daiki.

Como destacou anteriormente, para Bizerra, a comunicação entre a equipe continua melhorando e também ajuda nesses casos. "Se estamos nos sentindo mal por causa de um campeonato ou de uma partida que não foi do jeito que queríamos, podemos resolver facilmente. Nós conseguimos conversar entre nós e resolver, não apenas após uma competição, mas também durante os treinos".

"Estou ficando mais velha"

A determinação delas é tanta que, quando pergunto se prefeririam se classificar para o VCB em vez de vencer o campeonato mundial do Game Changers, escuto um firme "sim" como resposta.

"Uma coisa leva à outra", explica Bizerra. "Então, se, por exemplo, chegarmos ao VCB, tenho certeza de que vamos estar muito mais preparadas para vencer o mundial do Game Changers. De qualquer forma, chegar ao VCB vai ser melhor para nossa equipe em vários aspectos: táticas, saúde mental, representação..."

Ouvir isso não é exatamente uma surpresa, especialmente quando se trata de Daiki. Quando o cenário competitivo de VALORANT começou e ela jogava pela Gamelanders Purple em 2021, eu me lembro claramente dela enfatizando que queria ir além do Game Changers. Não que isso não seja importante, longe disso. É só que ela sempre teve suas prioridades definidas, e essa mentalidade ficou muito clara (e é compartilhada) para Bizerra, joojina e isaa quando se juntaram à Team Liquid em 2023.

"Foi algo que queríamos destacar quando elas se juntaram, porque tanto eu, [o treinador] Palestra e bstrdd acreditamos que quanto mais avançamos em torneios mistos, melhor ficamos, mais melhoramos nesse aspecto e mais longe iremos em torneios inclusivos. Sempre priorizamos isso, porque se estamos indo bem na liga mista, teremos um bom desempenho no circuito inclusivo também".

Como líder da Cavalaria e uma das "fundadoras" ao lado de bstrdd, Daiki sempre mostrou esse tipo de autoconfiança em entrevistas, mesmo sendo bem jovem. Então, quando peço para ela compartilhar sua opinião sobre todas estarem em uma posição de representar e inspirar jovens, toda uma comunidade feminina, e darem passos cada vez mais largos, ela mais uma vez responde com confiança; só que não era a resposta que eu estava esperando.

"Não sei se consigo continuar falando sobre isso porque estou ficando mais velha".

Daiki tem 19 anos.

Ela continua, depois de darmos risadas (e desta anciã de 31 anos que vos fala derramar uma lágrima imaginária). "Estou brincando, mas quis dizer que realmente não me vejo mais como essa pessoa que inspira os mais jovens. Quando eu tinha 16, 17 anos, sentia que estava no mesmo nível de alguém estudando e jogando ao mesmo tempo - até porque eu de fato era essa pessoa".

Ela brinca, mas reconhece a importância de seu papel. "Acho muito gratificante porque sei o quanto isso significa. Eu também fui inspirada por outra mulher, e a coisa mais marcante sobre isso é nos ver conquistando esse espaço".

"Quando comecei a enxergar um futuro jogando FPS, fui absurdamente inspirada pela [proplayer de CS] bizinha. Naquela época, ela estava saindo da FURIA para tentar jogar em uma equipe mista, e achei aquilo incrível. Todo mundo dizia que ela era tão boa que poderia entrar em qualquer equipe mista. Eu pensava, 'Cara, quero ser aquela garota, sabe?' Hoje em dia, estou neste papel onde a gente pode levar nossa equipe como um time inclusivo até as qualificatórias fechadas, e sinto que isso com certeza inspira outras pessoas".

Créditos: Bruno Alvarez/Riot Games

Bizerra também concorda com a importância do patamar em que estão e o que elas representam. "Não é muito sobre representar os jovens, é mais uma questão de representar as mulheres no mundo dos jogos. (...) Sinto que eu represento muito quando consigo estar com uma equipe totalmente feminina passando por este campeonato e lidando bem com a situação, então estamos indo cada vez mais longe".

Próximos passos

Para o resto de 2024, é claro que o Game Changers está nos planos das meninas. A primeira qualificatória já está acontecendo e elas estão animadas para mostrar o que planejaram.

"Acho que este é o momento em que fizemos mais mudanças", revela Daiki. "E estou bem ansiosa para mostrar isso porque realmente trabalhamos em muitas coisas novas e tivemos muito tempo para essa preparação. Como infelizmente não conseguimos chegar ao VCB, tivemos mais de um mês - cerca de 40 dias - para nos prepararmos. A gente meteu o louco, mudamos tudo, e vamos ver no que vai dar".

Além disso, elas têm seus próprios objetivos, tanto em termos competitivos quanto mais pessoais. Bizerra destaca o crescimento pessoal, que também está ligado ao seu impacto na equipe. "Meu principal objetivo individual é conquistar mais coisas, ganhar mais confiança em mim mesma e (...) ajudar mais minha equipe, apoiando as meninas todos os dias."

Créditos: Bruno Alvarez/Riot Games

Daiki, por outro lado, fala sobre as aspirações coletivas da equipe, frisando o planejamento de longo prazo e a melhoria constante. "Nosso objetivo como equipe é planejar as coisas a longo prazo, fazer as coisas com mais calma e refletir melhor sobre cada uma delas".

"Em nível mais pessoal, estou tentando priorizar a minha saúde mental, por exemplo. Estou dando muita preferência a coisas como aulas de inglês. Sei que essas coisas são muito importantes para o meu crescimento pessoal (...), mas também são boas para contribuir com a equipe em algum momento. Por exemplo, ter uma dieta saudável ou fazer exercícios diários vai refletir positivamente em uma melhor de cinco".

As qualificatórias para o próximo Game Changers já estão acontecendo, então é uma questão de tempo para o próximo teste da Team Liquid Brasil. Até então, elas não tiveram nenhuma dificuldade, ganhando por 2-0 nas três primeiras séries que disputaram, perdendo apenas 15 rounds no total, e chegando à final do primeiro open qualifier. Isso já era esperado delas - as qualificatórias para o Game Changers não são a parte mais difícil, e até o mundial do Game Changers não é mais o objetivo final. O incerto diz respeito ao cenário misto e as próximas qualificatórias para o VCB. Não é possível prever como as mudanças que elas fizeram irão funcionar, ou se, mais uma vez, elas farão história no cenário misto. Mas uma coisa é certa: a Cavalaria vai seguir sua missão e continuar mudando o jogo.

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Vamoooos Team Liquid Brazil!

Agradecemos por querer saber o que a Daiki e a Bizerra têm a dizer e pelo interesse em aprender como esse time atingiu um sucesso histórico no cenário Tier 2. Não perca as qualificatórias!